sábado, 31 de janeiro de 2009

Liberdade

O existencialismo de Sartre postula que o homem não é em-si, não é um objeto inanimado como as coisas no mundo. Só as coisas são em-si. O homem é um ser para-si, pois tem consciência de si mesmo. Para ele o homem é um ser da liberdade, da escolha. É aquele que deseja e escolhe o que deseja. O homem autêntico decide o que quer, quando quer e por que quer. Apesar disso ser uma verdade, o homem civilizado não escolhe autenticamente a vida que quer levar. Ele durante toda sua vida assume compromissos sociais, morais e religiosos que não pode cumprir. Por escolher mal ele paga um preço muito alto, pois não consegue se libertar de suas escolhas e fica angustiado. Ele sofre com isso. Hoje em dia nós vemos uma grande parte dos casais vivendo juntos sem amor, apenas se suportando. Isso por causa dos filhos, por causa dos bens ou mesmo por dependência psíquica em relação ao outro. A vida torna-se insuportável. O resultado são as brigas, as traições, o consumo exagerado, a ansiedade, as compulsões e as neuroses. Também há profissionais que fazem a mesma atividade e odeiam o que fazem, são incapazes de mudar de profissão. Ficam no mesmo emprego por anos a fio, mesmo odiando o ambiente de trabalho. É um desperdício das capacidades físicas e intelectuais e da criatividade. Há também indivíduos que reclamam de seus vizinhos, mas são incapazes de mudarem de casa. Vivem dez, vinte, trinta anos no mesmo local. A explicação de Sartre para estes problemas está na angústia da escolha. O homem tem medo da liberdade. Para muitos seres humanos a liberdade gera a angústia. Muitos não suportam esta angústia e para não assumir a liberdade da escolha, fogem dela. São incapazes de escolher. São homens da má-fé. Para ele a má-fé é a atitude característica do homem que não é capaz de escolher. Este tipo de homem aceita passivamente sua situação, pensa que sua vida é assim porque Deus quis e que ele não pode mudar seu destino. Ele aceita os valores, normas e regras da tradição passivamente sem nunca refletir sobre eles. Ele engana a si mesmo e pensa que é dono de seus atos.
No amor a atitude da má -fé acontece quando o indivíduo está com alguém que não ama, mas por questões morais, religiosas ou por gratidão, fica assim mesmo com a pessoa. Ele não a ama, mas dissimula para si mesmo que a ama. Ele não quer fazer uma escolha pela qual teria que se responsabilizar. O indivíduo recusa a dimensão do para-si e torna-se em-si. Ele é um objeto, uma coisa, o puro nada. É o homem responsável que recusa sua liberdade e se torna um ser conformado. Para Sartre a união amorosa é um conflito incurável, já que assimila a própria individualidade e a do outro em uma mesma transcendência. Em conseqüência disso, implica o desaparecimento do caráter de um dos dois. Quem ama limita a liberdade alheia, apesar de respeitá-la. Daí surge a má-fé e a angústia de quem é incapaz de escolher entre a vida conjugal e a liberdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário